Esta é uma “historinha”... Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência ...
UMA VIAGEM DE NARIZES
(Denise Ottonelli, set./2003)
O olfato andava meio sufocado com tantos cheiros carregando os ares ...
Os narizes, de todos os matizes e formatos, achatados, aquilinos, arrebitados, arredondados, narizinhos e narigões, resolveram se encontrar no Congresso dos Cheiros.
Aquilino, pontudo, arqueado, narigão, ladrão de oxigênio, lá esteve Narigal, o nariz do mal:
-Pra que tanta preocupação com os cheiros, seus chatos entupidos?
-Entupido é você, seu inalador e expelente de poluição – disse Narigão, o ancião
- Apoiado, apoiadooooo! - bradaram vários representantes mundiais, em nariguês, a língua oficial do congresso.
E foi assim. Quebrando-se todos os protocolos, foram iniciadas as conferências, isto é, as falações e cheirações .
- Excelentíssimo Sr. Narigal, presidente de Bruxal, como se explica que seu país ainda continua soltando no ar quantidade tão grande de poluentes? Nós já não havíamos concordado, lá na terra dos Narizes Amarelos, sobre a limpeza dos cheiros globais? - disse Narigão, jovem consultor para assuntos de narizes.
-Quem disse que eu cumpriria este tratado? Ora, ora ! Desde quando Bruxal deixa de sujar , sujar, sujar ...?
-Foraaaa! Chô! Chispa daqui seu queimador de oxigênio ... destruidor dos nossos ares terrestres –bradaram novamente todos os presentes.
-Chega de nuvens de fuligem, de fumaça, de calor aumentando em nosso planeta e a vida dos seres vivos diminuindo, morrendo ... aos poucos, cheiro a cheiro também! – falou Olfatinho, o representante infantil no encontro interplanetário.
-Temos que obrigar o Narigal a controlar sua respiração. Ele não é o dono do mundo como pensa – disse Nariguda, líder feminina no congresso, ainda sentindo a falta dos narizes das mulheres, inteligentíssimas e pacíficas na disputa por cheiros naturais.
-É... é... pois é, cada um tem que ficar quieto no seu canto sem comunicação com os outros – falou Acomodado, o nariz conformado.
-Não foi isto que eu disse! Controlar a respiração rima com redução ... Não significa isolamento - falou de novo Nariguda.
-Eu entendi: o ar é de todos, mas a responsabilidade é de cada um para mantê-lo em renovação– vibrou Olfatinho, o rapidinho.
Neste momento, a falação cessou. A cheiração foi iniciada.
Cheirador, o nariz inalador, doutor em diferenciação de ares e prêmio Nobel em qualificação da atmosfera terrestre, verdadeiro nariz campeão, havia chegado. Em meio às nuvens brancas, sob o céu amazônico, aspirando ritmadamente naquele pedaço de pátria brasileira respirou:
-Uhm! Uhm! Uhm!
Um silêncio gostoso se fez ouvir naquele momento. Dr. Cheirador era sempre assim: calava fundo e fazia todos sentirem a própria respiração.
Uma tranqüilidade alegre contagiou os narizes congressistas.
Madrigal, até então escutando sem se manifestar, marcou a segunda presença feminina no evento: fungou o nariz em sons de acalanto. Todos diminuíram o ritmo de seus narizes e acabaram adormecendo, sem nenhum artifício químico.
Entretanto, Narigal, presidente de Bruxal, passava mal: sua respiração ficou difícil, entrecortada por pensamentos malígnos: apoderar-se da região Amazônica e ganhar muito dinheiro com a venda de ar em embalagens rotuladas pelo seu país.
Narigal viajou sem se despedir de ninguém, retornando a Bruxal ainda enquanto todos dormiam.
Os outros participantes do congresso, após o amanhecer, esfregaram seus narizes uns nos outros e voltaram mais felizes aos seus países, cheios de paz e novas idéias para cuidar do meio ambiente.
Dizem que Narigal continua agindo do mesmo jeito e a natureza do planeta anda meio revoltada com tanto abuso ... e dizem também que onde lhe “dão uma mãozinha”, ela tem retribuído, sob a forma de vida!
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